15/12/2008

vc jah ouviu a palavra hj? - perguntou um. e como poderia nao ter ouvido? - respondeu outro. nao ter ouvidos - foi o eco (a eco estava com narciso)

"Dizer o tigre é dizer os tigres que o engendraram, os cervos e tartarugas que devorou, o pasto de que se alimentaram os cervos, a terra que foi a mãe do pasto, o céu que deu luz à terra. Considerei que na linguagem de um deus toda palavra enunciaria essa infinita concatenação dos fatos, e não de um modo implícito, mas explícito, e não de um modo progressivo, mas imediato" (1969b, p. 221-222).
BORGES, Jorge Luis: Obras Completas. Vol. I, II, III, IV e V. BsAs: Emece, 1989

entre tigres e dragões, não podia faltar uma imagem de leão

25/11/2008

este é o post de numero 100

este é o posto de número 100. 1 é 1, 2 é 10, 3 é 11, 4 é 100. 4 é um ciclo completo; cito um complexo:
dungeons&dragons

18/11/2008

Caelus sem Gaia é imenso vazio escuro e sombrio, e deixa de ser manto azul e abraço cerúleo

A Águia sem Serpente é um erro; ao menos por enquanto. O excesso de altivez vira soberba; cavaleiro negro, hybris sombria. Acreditar ser apenas celeste, quando nasceu de um ovo, como todo filho da terra. É exagero da insensatez juvenil: complexo de épico. Apesar de que há sim muitos dragões inimigos, nem todos o são (conte-se entre esses aquele da História Sem Fim, que apesar do nome não era Oroboros, e apesar de dragao tinha cara de cachorro); sem falar no desperdício de vento, de ânimo, que é ficar lutando com moinhos. Além disso, alguns não se mata, se doma. "Aquele que combate monstros deve cuidar para não se tornar ele próprio uma monstruosidade".












09/10/2008

caminho do pólen não é o caminho do corvo, do camundongo e da bruxa

"""Os navajos têm aquela bela imagem do que eles chamam o caminho do pólen. O pólen é a
fonte da vida; o caminho do pólen é o caminho para o centro. Os navajos dizem: “Oh,
beleza diante de mim, beleza atrás de mim, beleza à minha direita, beleza à minha
esquerda, beleza acima de mim, beleza abaixo de mim, estou no caminho do pólen”."""

01/10/2008

"Ama a estrela, relva do caminho,
e os teus sonhos se abrirão em flores." (TAGORE)

16/09/2008

"e vem chegando a prmavera, meu coraçao está compressa, venha, q o q vem eh perfei~çao"

Flores
Titãs
Composição: Tony Bellotto / Sérgio Britto / Charles Gavin / Paulo Miklos
Olhei até ficar cansadoDe ver os meus olhos no espelhoChorei por ter despedaçadoAs flores que estão no canteiroOs punhos e os pulsos cortadosE o resto do meu corpo inteiroHá flores cobrindo o telhadoE embaixo do meu travesseiroHá flores por todos os ladosHá flores em tudo que eu vejoA dor vai curar essas lástimasO soro tem gosto de lágrimasAs flores têm cheiro de morteA dor vai fechar esses cortesFloresFloresAs flores de plástico não morremOlhei até ficar cansadoDe ver os meus olhos no espelhoChorei por ter despedaçadoAs flores que estão no canteiroOs punhos e os pulsos cortadosE o resto do meu corpo inteiroHá flores cobrindo o telhadoE embaixo do meu travesseiroHá flores por todos os ladosHá flores em tudo que eu vejoA dor vai curar essas lástimasO soro tem gosto de lágrimasAs flores têm cheiro de morteA dor vai fechar esses cortesFloresFloresAs flores de plástico não morremFloresFloresAs flores de plástico não morrem

Titãs de plástico, chumbo e bronze são recicláveis
http://images.google.com.br/images?ndsp=18&um=1&hl=pt-BR&q=flores+titas&start=0&sa=N

09/09/2008

retrospectivas de fim de inverno

novamente cavaleiro de espadas X cavaleiro de copas; mais uma volta. voto nas copas; aposto nas copas; prevejo as copas. deve ser o inverno: quando se nota, já se está em uma armadura. "icy wind of night, be gone, this is not your domain".. ainda bem que sobrou algum sangue quente. faça amor, não faça guerra -isso é uma ordem soldado. "a copa da árvore é nossa, com coração não há quem possa", já cantava a marchinha, não a bélica, mas a de carnaval; e ainda que "todo carnaval tem seu fim" e "não vou lhe jogar confetes pois já passou meu carnaval", nossa primavera tem mais flores nossas vidas mais amores, e segundo dizem mesmo que arranquem todas as flores não conseguirão acabar com a primavera. é na copa que ficam as flores, e os frutos, e o tal do benditofruto.

04/09/2008

02/09/2008

"""
I
Se vivo é porque a vida quer muito de mim e eu da vida, portanto, viver é uma exigência de compreensão do mundo e de mim mesmo. Portanto, aprendo-ensino-aprendo mais vivendo a experiência do aprender-ensinar. Na realidade, aprendo porque a vida ensina e ensino porque a minha própria vida me ensina a caminhar.
II
Quem faz as coisas do mundo somos cada um de nós. Se o vaso tem fundo é porque assim quisemos que ele fosse um objeto cabedor. E quisemos também que ele fosse bonito para o caso de não haver nada que coubesse nele. E transportamos a água para que nele coubesse a nossa sede. E colhemos flores para que nele coubesse os nossos sentimentos. O fundo do vaso que inventamos, quando está vazio cabe o ar que respiramos.
III
Também sonhamos quando dormimos, também sonhamos acordados. Também sonhamos, quando demasiado acordados, em dormir o sono dos justos. Também sonhamos, quando adormecidos pelas cruezas da vida, em acordar no paraíso. Também sonhamos em sonhar acordados, também sonhamos acordar de pesadelos. O sonho é sempre um sonho sonhado por alguém que acordou para a vida.
IV
Contra o esfriamento de nossos corações precisamos cardiovasculhá-lo e imprimir no sangue, talvez um tom de vinho mais forte, pois quanto mais velho melhor. Contra o entorpecimento dos sentimentos, trazer de volta a dor e o prazer de existir. Contra a morte em vida, a cicuta do despertar para a vida. Não fiquemos frios, mas façamos da frieza que adormece o coração, o princípio do calor da vitalidade.
V
Porque nós caminhamos numa imensa procissão: às vezes carregamos o andor, às vezes seguramos as velas, às vezes puxamos a ladainha, às vezes olhamos a saia da santa de pau-oco, às vezes miramos o manto da santa de gesso, às vezes rezamos, às vezes apenas seguimos, às vezes simplesmente vemos a procissão passar com irônico ceticismo.
VI
O conhecimento que passa não deixa pedra sobre pedra e constrói castelos. Traz muita coisa de novo que nos encontra quase sempre velhos. Reinventa o óbvio e repisa o inaudito. É feio e é bonito. É desejável e repulsivo. É coisa alguma e é infinito.
VII
“E é graças aos encontros inesperados dos velhos amigos que eu fico reconhecendo que o mundo é pequeno e, como sala-de-espera, ótimo, facílimo de aturar…” Guimarães Rosa
Segundo Calvino, “Enquanto era preparada a cicuta, Sócrates estava aprendendo uma ária com a flauta. ‘Para que servirá?’, perguntaram-lhe. ‘Para aprender esta ária antes de morrer’”.
E tenho dito. """

28/08/2008

Hölderlin

"O arauto dos imperativos do Além"
Nietzche

Friedrich Hölderlin (1770 – 1843), segundo L. Ryan, pertence a estes poetas "a quem em vida é recusado a glória e o reconhecimento. Mas, como de hábito uma nova época gloriosamente ressuscita".1

O poema que trazuzimos, "Menons Klagen um Diotima", foi escrito nos anos em que o poeta viveu em Homburg (1798/1800) provavelmente em 1799, e publicado originalmente com o título de "Elegie"; em 1800, Holderlin retomou-o mudando-lhe o título e dando-lhe a versão que conhecemos; tendo sido, então, publicado em 1803, no "Almanaque das Musas" de Vermehren.2

Baseamo-nos para a tradução na edição das Obras Completas de Hölderlin (Grosse Stuttgarter Ausgabe) organizada e comentada por Friedrich Beissner e Adolf Beckt.

A busca do sagrado é o cerne, a essência da poesia de Hölderlin; e como afirmou Heidegger: "A estrutura da poesia de Holderlin é essa determinação poética que exprime a essência da poesia em si mesma. Holderlin é para nós, num sentido privilegiado, o poeta do poeta".3

É nesse sentido que é preciso compreender a poesia e a vida de Hölderlin, esse alemão de alma grega que com suas traduções de Sófocles e Píndaro, incorporou-os ao idioma alemão. Poeta, talvez o único em sua época a realizar a síntese dionisíaco-apolínea do espírito romântico e da forma clássica. É não só um dos grandes poetas da língua alemã, mas um dos maiores da literatura universal. Atestam estes adjetivos, poemas como: "Patmos", "Der Archipelagus", "Der Wanderer", "Brot und Wein", "Der Einzige", "Menons Klagen um Diotima", "wie wenn am feiertag", etc; e um dos mais ternos livros que a alma de um poeta já teceu: "Hyperion ou o Eremita da Grécia".

Em 1799, aos 29 anos, escrevia ele à, sua Diotima (Susette Gontard): "Todos os dias tenho que reinvocar a divindade desaparecida. Quando penso nos grandes homens das gráfides épocas1, que em torno de si espalhavam o fogo sagrado, transformando em chama tudo o quê era morto, seco e a palha do mundo, que com eles subia ao céu; então, penso em mim; uma frágil cadeia, vagando, mendigando uma gota de óleo para iluminar um pouco a noite; assalta-me um estranho tremor e digo a mim mesmo estas palavras terríveis: morto vivo!

Sabes porque é assim? Os homens têm medo uns dos outros. Temem que o gênio de u devore o de outro, eis porque concedem espontaneamente apenas o alimento e a bebida, mas nada que possa saciar a alma..." Holderlin não fez de sua obra apenas a essência da poesia; ele viveu essa essência, levando às últimas conseqüências o seu universo poético e cortando durante 40 anos qualquer relacionamento com o mundo exterior. Holderlin não enlouqueceu, é a realidade em si mesma, que é absurda; enfrentando o seu próprio demônio, cumpriu apenas "a Vocação do Poeta". Quantos poetas de hoje e de sempre não travaram esse combate, fazendo do ato poético a sua própria vida? – Villon, Blake, Novalís, Poe, Nerval, Schumann, Van Gogh, Rimbaud, Strindberg, Artaud, etc. E o mundo real, o que pode oferecer aos poetas? Mundo do qual, disse muito bem Dylan Thomas: "Metade éconvenção, metade é mentira".

Carlos Lima

Poeta e professor da UERJ

Image

Johann Christian Friedrich Hölderlin

Lamentos de Menon por Diotima

I

Dia após dia, eu vou buscando sempre um novo rumo,
Interroguei há muito da terra todos os caminhos,
Tenho visitado a frescura dos mentes, as sombras
E as fontes, por toda a parte erra meu espírito,
Mendigo de repouso, como um animal ferido para o bosque foge,
Onde outrora, ao meio dia, à sombra, seguro repousava,
Mas o seu verde abrigo já não lhe pode confortar o coração,
Gemendo e insone vaga, os espinhos o ferem.
Não o socorre o frio da noite, nem o calor do dia,
É inútil que nas águas do rio lave suas feridas.
E em vão, a oferenda que lhe faz de suas ervas
A terra, a febre de seu sangue nenhum zéfiro alivia,
Também a mim, ó amados! Ninguém
Poderá afastar de minha fronte o funesto sonho?

II

Sim, de nada serve, deuses da morte! Uma vez que
Manténs prisioneiro o homem vencido,
Depois, ó cruéis, de precipitá-lo na noite terrível,
Buscar, implorar ou insultar-vos,
Ou talvez paciente ficar neste doloroso exílio
E sorrindo ouvir esta canção prosaica.
Tem que ser assim, esquece tua salvação e adormece em silêncio!
E contudo sobe do meu peito a canção da esperança,
Ainda não podes, ó minha alma! Não podes ainda
Habituar-te e sonhas no meio do sono profundo!
Nenhuma festa, mas gostaria de coroar meus cabelos,
Então, eu não estou sozinho? Um sinal amigo deve chegara mim
No entanto longe, sorrio e surpreendo-me
De tão feliz estar em meio à dor.

III

Luz do amor! Õ luz dourada, brilhas também sobre os mortos?
Imagens de um tempo mais calmo, brilhas para mim na noite?
Amados jardins, montes do crepúsculo,
Sejam benvindos, e vós, silenciosos caminhos do bosque,
Testemunhas de celeste ventura, e vós, estrelas altíssimas.
Que outrora tantas vezes.me abençoastes!
Vós, também amadas, belas filhas dos dias de maio,
Serenas rosas, e vós, lírios, eu vos invoco ainda!
As primaveras passam, é certo, um ano vence outro,
Alternam-se e lutam, assim passa o tumulto do tempo
Sobre os mortais, mas não para os olhos felizes,
Aos amantes uma outra vida é concedida.
Pois, todos os dias e anos dos astros, eles estavam
Diotima! Junto de nós, íntimos e eternos;

IV

Mas nós, felizes de estarmos juntos, como cisnes apaixonados,
Quando no lago repousam ou balançam nas ondas,
Contemplando as nuvens de prata que se refletem na água,
E o azul etêreo que o seu curso agita
Assim caminhávamos sobre a Terra. E se o norte ameaçava,
O inimigo dos amantes, forjando lamentos e caíam
Dos ramos as folhas e voava no vento a chuva,
Sorríamos tranqüilos, sentíamos o próprio Deus
Em nossas confidencias, no cântico único da alma,
Sós, na nossa alegria infantil em plena paz.
Mas agora a casa é um deserto e tiraram-me
Os olhos e,sem eles, perdi-me.
Por isso vago; como as sombras terei que
Viver, e há muito, nada tem sentido para mim.

V

Celebrar eu queria, mas para que? E com outros cantar,
Pois sozinho, falta-me tudo o que ê divino.
Esta, eu sei, é a minha impotência e uma maldição entorpece meus
Nervos e abate-me, logo que começo
Inerte passo todo o dia, mudo como as crianças;
Apenas desce dos olhos uma lágrima fria,
E pertubam-me as flores do campo e o canto das aves,
Com sua alegria, pois são também arautos do céu,
Mas no coração frio, o sol que dá vida
Sinto-o fraco e estéril como os raios da noite,
Ah! Inútil e vazio como as paredes de uma prisão, o céu
Como um fardo opressivo paira sobre minha cabeça.

VI

O juventude, que outrora conheci tão diferente!
Não há oração que te traga de volta,
Nem caminho que te reaproxime?
Acontecerá a mim, o que outrora aos ímpios
Que com olhos ávidos tomaram lugar à mesa dos eleitos,
Mas logo saciados, os exaltados hóspedes
Calaram-se e com o canto dos ventos
Sob a terra florida adormeceram, até o dia
Em que um milagre do abismo os resgate
E retornem a caminhar sobre a terra verdejante.
-O sopro sagrado penetra a figura iluminada
Quando a festa se anima e o fluxo do amor se eleva
Emenbriagada com o céu, a torrente viva murmura
E ressoa no abismo, a noite devolve seu tesouro,
Sobe dos rios, o brilho do ouro oculto.

VII

Mas, ó tu, que outrora no meio do caminho
Quando diante de ti, abatido, consolaste-me com a beleza,
Tu que me ensinaste a ver a grandeza e com alegria cantar os deuses
Silenciosa, como eles, ensinaste-me o entusiasmo e a calma,
Ô filha dos deuses! Apareces e saúdas-me como outrora,
Falando-me, como outrora, das coisas sublimes?
Vês? Tenho que chorar e lamentar por ti, e quando
Penso em tempos mais nobres a alma se envergonha.
Pois, há tanto, tanto tempo pelos fatigados caminhos da terra,
Habituado a ti, eu te busquei errante,
Cordial espírito protetor! Mas em vão, os anos dospersaram-se
Desde que palpitava em nós o brilho da noite.

VIII

So a ti, a tua luz, na luz te guarda, Heroína!
E tua paciência te mantém amorosa, ó terna!
E nem sequer estás só, há muitos companheiros,
Onde floreces e repousas sob as rosas dos anos,
E o próprio Pai, no doce sopro das musas
Envia-te as meigas canções do sono.
Sim! Ela é ainda a mesma! Ainda surge, como outrora
Caminhando serena para mim, a Ateniense.
E mesmo, amigável espírito, que de tua fronte calma
Tombe sobre os mortais a benção do teu raio,
Revela-te a mim, fala-me, para que dizer aos outros possa
Porque, também, há outros que não crêm,
Que a alegria é mais imortal que a aflição e a cólera
E que ainda existe um dia de ouro no fim de cada dia.


IX

O celestiais! Assim vos dou graça e enfim
O sopro da prece alivia o peito do cantor.
E como no tempo em que ficava com ela no monte ensolarado,
Um deus fala do interior do templo, dando-me vida.
Já floresce o verde, quero viver também! Como uma lira sagrada
Clamam os montes prateados de Apolo!
Vem! Foi como um sonho! As asas que sangravam,
Já estão curadas e renascem todas as esperanças.
Há muitas, muitas grandezas ainda a descobrir, e quem
Tanto amou, tem que ir pelo caminho dos deuses.
E acompanhai-me, horas solenes! Taciturnas horas
Da juventude! Perdurai santos presságios,
Piedosas preces, entusiasmos, e vós
Bons gênios que acompanham os amantes,
Ficai conosco até que no lugar para onde
Retornam os bem-aventurados,
Lá, onde estão as águias, os astros e os mensageiros do Pai,
Lá, onde estão as'-tn"usas, onde vivem os heróis e os amantes,
Lá, ou aqui mesmo, sobre uma ilha orvalhada nos reencontraremos,
Onde os nossos, enfim, em comunhão florescem
Onde os cantos são verdadeiros e perduram as primaveras mais belas
E da nossa alma começa um novo ano.

Nota: O artigo sobre Hölderlin, assim como o poema Lamentos de Menon por Diotima foram publicados originalmente na revista "Alguma Poesia", editada pelo poeta Carlos Lima, durante os anos 1970 / 80

Quando eu era menino...

Quando eu era menino,
Um deus freqüente me salvava
Da gritaria e do látego dos homens,
Em segurança eu brincava
Com as flores do bosque;
As brisas do céu
Vinham brincar comigo.
E assim como alegras
O coração das plantas,
Quando estendem os braços
Meigos para ti,
Meu coração alegraste
Também, Pai Hélio! e como Endimião
Eu era o favorito Teu, sagrada Lua!
Oh vós todos, fiéis
Deuses amistosos,
Se soubésseis o quanto
Minha alma vos amou!
Não vos chamava eu então
Pelo nome, nem vós a mim
Pelo meu, como os homens
Quando se conhecem.
Mas eu vos conhecia
Como jamais aos homens conheci.
Eu compreendia o silêncio do Éter;
As palavras dos homens, não.
Educou-me a harmonia
Do bosque murmurante
E aprendi a amar
Debaixo das flores.
Foi nos braços dos deuses que eu cresci.

Johann F. Hölderling (1770-1843), Poeta alemão

21/08/2008

quem é quem


cada qual todos um, sempre em frente transforma pedra em pão, suporte stand.arte, se assim me permitirem o engenho e a sorte, as nuvens passam, as montanhas sobem, bem sabes se sim é assim, que entao seja; ha inumeros vivos.

31/07/2008

"agora vem, e como de homens e mulheres de muitos prantos noturnos rebentos trouxe à luz separando-se o fogo, destes ouve; pois não é mito sem alvo e sem ciência." [Empédocles, Simplicio, Fisica, 381, 29]

28/07/2008

sobre o surgimento do animal racional: encarar a verdade como pertencendo ao logos, como uma propriedade do logos. "discurso" e "medida" como condiçao necessaria da verdade.
o logos nao é visto como uma lente que permite um certo olhar ao incomensuravel , ou um mero meio de dar sentido ao incomensuravel.
nao ha incomensuravel.
o desencantamento do mundo refere-se à cisão da psique consciente do inconsciente, e da consequente utilização exclusiva de projeçoes tipicas do consciente (mecanicismo, razao instrumental) no mundo. o mundo é uma superficie, o mundo é obvio, o mundo é lógico; o mundo é a=a e a ou não a. as projeçoes de sentido de complexos psíquicos que não sejam adequadamente compatíveis com o logos sao tidas como fantasia e delirio, tolices e inutilidades (razão como divindade tirânica no panteão psiquico). o homem passa a ser exclusivamente sua "consciência", sua casca, e o mundo tambem uma casca, conhecida e segura – tudo sob controle [o mundo é completamente mensurável, calculável e previsivel - o mundo torna-se metron, apenas o que pode ser medido com a medida humana! “o homem é a medida de todas as coisas”, especialmente quando possui conhecimento objetivo das coisas].
Desde então o mundo é a crosta terrestre: ignora-se o oceano de lava, e os vulcoes sao patologias.
porem parece que é o logos que possibilita um certo tipo de consciencia, e essa consciencia que possibilita um certo tipo de escolha, que por sua vez é um certo tipo de liberdade. abandonar a racionalidade nao apenas é irracional, é indesejável.

21/07/2008

e Goethe diz: “todas as coisas são metáforas”
e a metáfora diz: todas as coisas são Goethe
e as coisas dizem: Goethe é uma metáfora

17/06/2008

sobre hybris, Faetonte, Icaro, contenta-te em ser homem, Babel, Golem, etc. - resignação e caminho do meio X "preguiça e covardia"

pra que vc quer ir além? além do que? além do mais, já estamos lá, aqui no além, já somos transcendência. transmutar joio em trigo, não joio em pão. ou não? sim, talvez.
diria um que é tendência à inércia, ao conservadorismo, após o ímpeto da juventude. outro que prudência é sabedoria, em especial em tais casos. o fool é seeker, mas na ânsia do buscador, move-se demais, rebate-se aleatoriamente, e perde o que já havia ganho.
muita calma nessa hora. muita alma nessa aurora. "verbum sapienti: quo plus habent, eo plus cupiunt".
http://www.youtube.com/watch?v=13GA8JLW9qI

ponderava Marco Aurélio:
"Lembra-te sempre de todos os médicos, já mortos, que franziam as sobrancelhas perante os males dos seus doentes; de todos os astrólogos que tão solenemente prediziam o fim dos seus clientes; dos filósofos que discorriam incessantemente sobre a morte e a imortalidade; dos grandes chefes que chacinavam aos milhares; dos déspotas que brandiam poderes sobre a vida e a morte com uma terrível arrogância, como se eles próprios fossem deuses que nunca pudessem morrer; de cidades inteiras que morreram completamente, Hélice, Pompeia, Herculano e inúmeras outras. Depois, recorda um a um todos os teus conhecidos; como um enterrou o outro, para depois ser deposto e enterrado por um terceiro, e tudo num tão curto espaço de tempo. Repara, em resumo, como toda a vida mortal é transitória e trivial; ontem, uma gota de sémen, amanhã uma mão cheia de sal e cinzas. Passa, pois, estes momentos fugazes na terra como a Natureza te manda que passes e depois vai descansar de bom grado, como uma azeitona que cai na estação certa, com uma bênção para a terra que a criou e uma ação de graças para a árvore que lhe deu a vida."

19/05/2008

filosofia, arrogância e confusão, ou "with birds I share"

Eventualmente a tradição mais oculta do que revela, como uma caverna com correntes e sombras na parede. Herdam-se sombras, desenvolvem-se sombras, sofisticam-se sombras, e mesmo superam-se, abandonam-se, substituem-se sombras. Sem sombras de dúvida, sem o benefício da dúvida até que provem o contrário, pois quem prova aprova, prova real. É tudo por um real, aparentemente; e paradoxalmente, a = a.
Psitacismo. Prosopopéias e onomatopéias. Centopéias de mil logos, louros acadêmicos prrr dá o pé louro prrr. Pé inchado, como Édipo. Rei Midas, um mundo em que o toque da cobiça deixa tudo frio; não são mais vistas árvores, mas o conceito de árvore, já disseram. Entre o Phd e o monge, não tive dúvidas, sem sombra de nuvens.


MOYERS: Não há dúvida de que nós, modernos, estamos despindo o mundo de suas
revelações naturais, da própria natureza. Penso naquela lenda pigméia do menino que
encontra na floresta um pássaro de belo canto e leva-o para casa.

CAMPBELL: Ele pede ao pai que traga alimento para o pássaro, mas este lhe diz que não
pretende alimentar um simples pássaro, e mata-o. A lenda diz que o homem matou o
pássaro, com o pássaro matou a música e com a música matou-se a si mesmo. Caiu morto,
completamente morto e morto permaneceu para sempre.

MOYERS: Isso não é uma história sobre o que acontece quando seres humanos destroem
seu ambiente? Destroem seu mundo? Destroem a natureza e as revelações da natureza?

CAMPBELL: Destroem sua própria natureza, também. Matam a música.

MOYERS: A mitologia não é a história dessa música?

CAMPBELL: A mitologia é a música. É a música da imaginação, inspirada nas energias do
corpo. Uma vez um mestre zen parou diante de seus discípulos, prestes a proferir um
sermão. No instante em que ele ia abrir a boca, um pássaro cantou. E ele disse: “O sermão
já foi proferido”.

13/03/2008

"se deus existe, então tudo é permitido"

"Não te dei, Adão, um lugar determinado, um aspecto próprio, nem prerrogativa alguma, porque esse lugar, esse aspecto e essas prerrogativas que venhas a desejar, tudo segundo tua vontade e teu discernimento, deves obter e conservar. A natureza limitada dos outros está contida em leis por mim prescritas. Tu determinarás as tuas sem seres impedido por barreiras, segundo o teu arbítrio, a cujo poder te confiei. - Pus-te no meio do mundo, para que de lá avistasses tudo o que nele existe. Não te fiz celeste nem terreno, mortal nem imortal, para que, como livre e soberano artífice de ti mesmo, te plasmasses e esculpisses na forma que melhor te aprouvesse. Poderás degenerar para as coisas inferiores; poderás, segundo o teu desejo, regenerar-te nas coisas superiores, que são divinas". (De hominis dignitate, Pico della Mirandola - séc. XV)
a existência precede a essência, e uma criação ex nihil de um ser ex nihil precede ambas :D

04/03/2008

Meu ponto final é que apenas a ética não é o bastante para realizar uma mudança no mundo. Sozinha, a ética sem a estética, não se sustenta. Por exemplo, o meio ambiente: Não estamos motivados a lutar por ele simplesmente porque nós temos que fazê-lo. É claro que somos eticamente responsáveis por nossos padrões de consumo, e que somos culpados em razão do consumismo. Igualmente, não somos motivados apenas por altos princípios de Gala, e pela ecologia, e as gerações futuras, produzindo compensações, conciliações, sacrifícios. A motivação deve vir de baixo do superego, do id do desejo. Nós devemos primeiramente ser movidos pela beleza. Para isso o amor é estimulado. Quando você ama alguma coisa, então você a quer por perto, sem ser molestada. Então você fica um pouco cego para os seus defeitos e riscos -- oh, sem essa de custo-benefício, de extratos, saldos, de avaliações financeiras.
O que evoca o amor? Tal como têm sido dito em muitos lugares, em muitos anos, e sentido por cada um de nós, é a beleza. Uma percepção estética traz para a frente o nosso cuidado ético. Aesthesis madrugadora, respire a beleza do cosmos -- oh o rastejar meticuloso de um inseto, o suspiro da terra gelada quando o inverno revela seu domínio, observe a complexidade composta de uma simples pedra, o remoinho na areia quando a maré retrocede, ou escute o cantar do pássaro madrugador. A beleza nos deixa perplexos e atrai o foco do coração na direção do objeto, para fora de nós mesmos, para fora de nossa insanidade centrada no homem, na direção de querer manter o cosmos lá onde ele está por mais uma primavera e uma outra manhã. Esta é a emoção ecológica, e ela é estética e política ao mesmo tempo.
[james hillman]

26/02/2008

assim falei pro zaratustra - - zaratustra revisited parte VIII

E que seria de um abutre que aprendesse a cantar como um rouxinol? Acaso mesmo os ouvidos mais refinados não diriam “vede, eis uma ave de bom agouro; seu mavioso canto nos anuncia novos prados verdejantes” ? Porém, não poucos foram os que seguindo este canto fizeram-se de si mesmos carniça, e tiveram seus olhos arrancados, ao praguejarem contra a compaixão. Este abutre, meus amigos, este abutre quis se passar por águia! Porém ele próprio se delatava ao revelar que carregava uma cobra em volta do pescoço. Mas a ave altiva sabe que para serpentes não se deve dar a mão, mas tão somente as garras, e que é de bom gosto decepar suas cabeças, antes que se prendam na garganta do pastor. Ou ao menos extirpar-lhe as presas, pois uma vez cravadas, não adiantará apenas decapitar com uma mordida e cuspir fora: a flauta já não será mais doce, enquanto agir o veneno. Veneno!! Sim meus amigos, havia muito leite e mel, e aves canoras e estrelas bailarinas e montanhas e oceanos neste profeta; mas se sua solidão nos bosques era doce, o abandono nas cidades era venenoso e amargo. E não foi bom sinal anunciar que o homem é uma corda sobre um abismo, para em seguida ver despencar e se espatifar um artista, e iniciar sua jornada com um ouvinte e companheiro cadáver. Um vento forte para figos maduros deve soprar para figos maduros, e eventualmente brincar em pequenos redemoinhos de poeira na estrada, caso não seja época de figos; mas tornar-se tornado, e assim transtornado e com fúria cega sair devastando antigas tábuas e tudo mais o que encontrar pelo caminho, inclusive as figueiras, é também fome de vácuo. Pois mesmo as figueiras amaldiçoadas e ressecadas por não terem produzido frutos podem ainda brotar, e folhas são alimento doce o suficiente para as lagartas. Quê meus amigos?? Ríeis e desprezeis as lagartas e doutrinas sobre lagartas? Não é segredo em que elas se tornam, após seu breve casulo cavernoso; e se não admirais as flores, vossa virtude é a das pedras e dos seres inanimados.
Também houve precipitação ao anunciar que deus estava morto – talvez houvesse demasiada fome pela herança. Os deuses vivem morrendo e renascendo, seja após três dias ou após três eons, e talvez nisso consista sua imortalidade. Deus não morreu, apenas perdeu os sentidos! E bem sabemos que criar valores é criar sentidos. Adormeceu, o tal deus, e em seus sonhos o culto que aqueles que se denominavam seus fiéis lhe prestavam se apresenta como horrendo pesadelo.Em todo caso, seja sono profundo, seja morte cerebral, deixai que os mortos que enterrem seus mortos. Novos deuses já dançavam e cantavam, e também faziam a terra tremer. Cuidemos apenas para não passarmos a idolatrar gólems e outros monstros, e também nenhum asno. Uma nova geração de profetas, precisam os homens, e de uma nova geração de homens.
A compaixão pelos homens era tua última salvação, e não tentação, ó sábio dos adolescentes rebeldes!! Desprezando-a, a criança que te trouxeste o espelho foi embora, e te tornastes a imagem abominável que vistes. Quando estavas alegre, tuas bênçãos se derramavam espontaneamente, como um sol dourando remos; mas, talvez por rejeitares tão hebraicamente as mulheres, também tu, guerreiro e senhor de exércitos, também tu sucumbistes efeminadamente como a Eva, e rendeu-se aos encantos de serpentes. Foi tua serpente que te disse: “veja, há mais ventura em roubar do que em dar” – isso é mesquinhez e coisa de lojista! E tua criança, destemida, brincando de escandalizar e surpreender, e cuja sabedoria dizia muitas coisas apenas para escandalizar e surpreender, é a própria presa fácil para uma tal astúcia rastejante – e rapidamente a amargura tira todo doce da criança. Sim, tua serpente velhaca, que um dia te disse: “para ir mais longe, deves procurar outros caminhos; se outros sábios iniciaram subjugando, domando e matando serpentes e monstros marinhos, comece com um “kiss the snake on the tongue”!! Beijar a serpente na língua, e tornar-se demente e alcoólatra! E acreditar que com isso se cultuava um deus da música! De fato acontecem aí estardalhaços, mas nada mais avesso aos ares de montanhas e músicas de esferas. Na verdade a coisa mais próxima a isso que se viu em altas montanhas foram porcos jogando-se abismo abaixo; e como sabes, não foram poucos os que, tentando exorcizar demônios, jogaram-se com os porcos. O tal anão, o solene espírito do peso – que por sinal era teu parceiro, juntamente com a lua e aranhas, quando tinha tuas visões mais bizarras e absurdas – esse anão, que engano! Era um gigante. Havia todo um entre céus e terra em sua estatura, e agora sabemos que mesmo na esfera supra-lunar as estrelas bailarinas não estão livres desse espírito de peso. Zaratustra, como bom solitário que era, sempre falou consigo mesmo apenas, mas infelizmente não ouviu com ouvidos para ouvir seus conselhos ao jovem da árvore da montanha. Na verdade, foi apenas por querer ser mundano e consequentemente demasiado realista que ele não ousou declarar que tudo era um sonho, quando ouviu o sábio pregando as virtudes do sono, embora volta e meia exortava pelo despertar.
“Mas quem és tu”, talvez me dirão, “que imita a Zaratustra como um coxo a um dançarino, e que traz pregações que poderiam agradar até a velhas beatas?” Até os coxos podem dançar, e muitos só acreditam mesmo em coxos que saibam dançar; e ainda que sua dança não seja belo espetáculo, há coração em seus pés. Também das velhas beatas pode-se aprender muito, menos talvez sobre mulheres e chicotes; de qualquer modo, um bom desprezador despreza seu próprio desprezo, e com isso re-inventa a devoção. Porém, certamente Zaratustra era incomparavelmente melhor poeta e possuía grande sabedoria; não á toa foi também nosso mestre. Mas à tais mestres honra-se mais martelando-lhes um punhal no peito seco e duro de seus espantalhos do que lhes prestando cultos, e já a tempos é anunciado: “Zaratustra está morto! Zaratustra foi também apenas uma ponte, demasiado ponte, e já ficou para trás. É chegado o tempo de outras ilhas bem-aventuradas”.

31/01/2008

“Dois excessos: excluir a razão, só admitir a razão” (Blaise Pascal).

o sono da razão desperta monstros, mas a insônia maquina pesadelos

04/01/2008

apontamentos da palestrinha

CALENDÁRIO: presente de Prometeu/Hermes aos homens – o “passar” ou “advir” dos dias (sol nasce e se põe, noite, lua e estrelas, e novamente sol) não mais como uma “potência oculta”
“Naturalização”: perda ou abandono do “fantástico”; as coisas tornam-se “humanamente assimiláveis”, explicáveis, inteligíveis, “abertas, claras, aletheiadas” não mediante a figura de uma potência dotada de volição e consciência (“antropomorfismo”, deuses como princípios explicativos) e poderes sobre-humanos (poder de subjugar os homens, domina-los ou destruí-los – cultos de adoração pelo temor/aplacar a ira), mas a partir da imagem ou idéia de MECANISMO -> natureza em geral e seus fenômenos em particular são a) uma força cega (não consciente); b) regida por ordem e necessidade (não há acaso ou arbitrariedades, mas sim leis); c) essa ordem, essas leis podem ser conhecidas ou descobertas pelo homem, através unicamente de seu próprio empenho (não há “revelação” ou “dádiva” em relação ao conhecimento, mas sim exploração e conquista) e d) a natureza e seus fenômenos podem ser “compreendidos”, manipulados e dominados (causa e efeito >> ordem como repetição >> indução >> leis naturais >> utilização de leis para fins específicos [ou conhecimento das leis + “inventividade”] >> técnica [inventividade como motivação e capacidade de “inventar” e “construir” objetos cujo uso atenda a alguma finalidade humana]. Assim, inverte-se a relação de uma natureza divinizada que domina o homem para um homem divinizado (ele é o portador do “fogo” ou “luz” da razão que clareia e abre caminho diante das trevas do oculto) que domina a natureza. Sobre esse “fogo” da razão instrumental que diviniza o homem: diferença entre a fogueira dentro da caverna e o sol lá fora, lá do mito do Platão.
RAZÃO INSTRUMENTAL [razão instrumental e neurose, realismo fantástico/mágico e psicose, techne e poiesis] ///// o sagrado como práxis metafórica do ergo sum, fundamento de si ou auto-fundar-se (barão de munschaussen)// fundamento da conuctio entre essência e existência na verdade imaginal// conhece-te a ti mesmo como guerra e dança, arco e lira; atitude sacra como dês-reificação, dês-robotização(re-encantar o mundo, animismoXmecanicismo)
SACRALIZAR O MUNDO: A NATUREZA COMO HIEROFANIA, A NATUREZA COMO UM TEMPLO


Sobre razão/logos/teoria: o ponto principal não é tanto a capacidade de formular conceitos e estabelecer entre eles relações de predicação (em especial subsunção - conceitos mais gerais “abarcando” conceitos mais específicos) articuladas enquanto linguagem (pois isso também ocorre nas narrativas míticas e na poesia), mas sim na noção de INFERÊNCIA. É isso o que falta em visões “irracionais”: as ‘conseqüências’ ou ‘resultados’ ou ‘conclusões’ não são inteligíveis em algum sentido de “inferência válida” usual; o advir de imagens e pensamentos parece caótico e “sem sentido” por não estar submetido à “lógica”.

Heidegger sobre Nietzsche (que significa pensar): animal racional como animal metafísico; sofrimento como vingança; vingança como principio metafísico; pensar e representar como vingança >>>
modernidade: bacon e etc: obrigar a natureza a falar, tortura-la se for necessário; a vivência do estar só no mundo (sem “re-ligare”) como desolação, mundo como mundo que atormenta, natureza como constante ameaça. Ciência e técnica como vingança do homem contra a natureza; o homem usa a razão (o fogo de Prometeu) com o fim de tornar-se Titã e desafiar os deuses. O homem, que seria nada mais que parte da natureza, filho dela também, dela se separa em “civilização”, em ambientes “artificiais” urbanos [espaço-tempo artificiais da cultura e urbanidade], e declara guerra contra a natureza: quer domina-la, ser senhor da terra, e não mais estar submetido à “potencia desconhecida” por vezes terrível (pestes, desastres naturais, etc.. – fome, doença e morte – em resumo, sofrimento) que ela representa. É depois disso, dessa afronta, desse confronto, desse desafiar a natureza e em determinado sentido subjuga-la, domina-la (ou considera-la dominada**1), que o homem encontra nela mero “utensílio”, mero conjunto de recursos para seus fins, um “escravo” ou “servo” que nada vale por si próprio [não eh fonte autônoma de reivindicações :p], mas tão somente enquanto meio, algo que se define não apenas como possível de ser explorado e usado, mas que –deve- ser usado e explorado como que por sua própria natureza (natureza no sentido de essência). **1 a afronta se dá mesmo antes do império da técnica, mas de uma forma bem mais moderada, mesmo porque é um domínio da natureza bem mais restrito e em grande parte vinculado a esperança/confiança na providencia divina (como p. ex., no antigo testamento os hebreus já concebem a natureza como mero utensílio – o homem não apenas eh o centro da natureza no sentido de ser o que possui maior valor e maior importância, mas de que ele possui uma importância absoluta, e toda a natureza relativa: ele não apenas eh superior, mas senhor, e senhor absoluto; sua vontade eh a lei. Porém, sem dispor dos recursos para confrontar e dominar de fato a natureza, o homem eh vontade de vingança que ainda não conquistou seu trono; por isso a vontade do conhecer, o querer a verdade, torna-se vontade de poder.