15/12/2008
vc jah ouviu a palavra hj? - perguntou um. e como poderia nao ter ouvido? - respondeu outro. nao ter ouvidos - foi o eco (a eco estava com narciso)
BORGES, Jorge Luis: Obras Completas. Vol. I, II, III, IV e V. BsAs: Emece, 1989
entre tigres e dragões, não podia faltar uma imagem de leão
25/11/2008
este é o post de numero 100
dungeons&dragons
18/11/2008
Caelus sem Gaia é imenso vazio escuro e sombrio, e deixa de ser manto azul e abraço cerúleo
09/10/2008
caminho do pólen não é o caminho do corvo, do camundongo e da bruxa
fonte da vida; o caminho do pólen é o caminho para o centro. Os navajos dizem: “Oh,
beleza diante de mim, beleza atrás de mim, beleza à minha direita, beleza à minha
esquerda, beleza acima de mim, beleza abaixo de mim, estou no caminho do pólen”."""
16/09/2008
"e vem chegando a prmavera, meu coraçao está compressa, venha, q o q vem eh perfei~çao"
Titãs
Composição: Tony Bellotto / Sérgio Britto / Charles Gavin / Paulo Miklos
Olhei até ficar cansadoDe ver os meus olhos no espelhoChorei por ter despedaçadoAs flores que estão no canteiroOs punhos e os pulsos cortadosE o resto do meu corpo inteiroHá flores cobrindo o telhadoE embaixo do meu travesseiroHá flores por todos os ladosHá flores em tudo que eu vejoA dor vai curar essas lástimasO soro tem gosto de lágrimasAs flores têm cheiro de morteA dor vai fechar esses cortesFloresFloresAs flores de plástico não morremOlhei até ficar cansadoDe ver os meus olhos no espelhoChorei por ter despedaçadoAs flores que estão no canteiroOs punhos e os pulsos cortadosE o resto do meu corpo inteiroHá flores cobrindo o telhadoE embaixo do meu travesseiroHá flores por todos os ladosHá flores em tudo que eu vejoA dor vai curar essas lástimasO soro tem gosto de lágrimasAs flores têm cheiro de morteA dor vai fechar esses cortesFloresFloresAs flores de plástico não morremFloresFloresAs flores de plástico não morrem
Titãs de plástico, chumbo e bronze são recicláveis
http://images.google.com.br/images?ndsp=18&um=1&hl=pt-BR&q=flores+titas&start=0&sa=N
15/09/2008
09/09/2008
retrospectivas de fim de inverno
04/09/2008
28/08/2008
Hölderlin
"O arauto dos imperativos do Além"
Nietzche
Friedrich Hölderlin (1770 – 1843), segundo L. Ryan, pertence a estes poetas "a quem em vida é recusado a glória e o reconhecimento. Mas, como de hábito uma nova época gloriosamente ressuscita".1
O poema que trazuzimos, "Menons Klagen um Diotima", foi escrito nos anos em que o poeta viveu em Homburg (1798/1800) provavelmente em 1799, e publicado originalmente com o título de "Elegie"; em 1800, Holderlin retomou-o mudando-lhe o título e dando-lhe a versão que conhecemos; tendo sido, então, publicado em 1803, no "Almanaque das Musas" de Vermehren.2
Baseamo-nos para a tradução na edição das Obras Completas de Hölderlin (Grosse Stuttgarter Ausgabe) organizada e comentada por Friedrich Beissner e Adolf Beckt.
A busca do sagrado é o cerne, a essência da poesia de Hölderlin; e como afirmou Heidegger: "A estrutura da poesia de Holderlin é essa determinação poética que exprime a essência da poesia em si mesma. Holderlin é para nós, num sentido privilegiado, o poeta do poeta".3
É nesse sentido que é preciso compreender a poesia e a vida de Hölderlin, esse alemão de alma grega que com suas traduções de Sófocles e Píndaro, incorporou-os ao idioma alemão. Poeta, talvez o único em sua época a realizar a síntese dionisíaco-apolínea do espírito romântico e da forma clássica. É não só um dos grandes poetas da língua alemã, mas um dos maiores da literatura universal. Atestam estes adjetivos, poemas como: "Patmos", "Der Archipelagus", "Der Wanderer", "Brot und Wein", "Der Einzige", "Menons Klagen um Diotima", "wie wenn am feiertag", etc; e um dos mais ternos livros que a alma de um poeta já teceu: "Hyperion ou o Eremita da Grécia".
Em 1799, aos 29 anos, escrevia ele à, sua Diotima (Susette Gontard): "Todos os dias tenho que reinvocar a divindade desaparecida. Quando penso nos grandes homens das gráfides épocas1, que em torno de si espalhavam o fogo sagrado, transformando em chama tudo o quê era morto, seco e a palha do mundo, que com eles subia ao céu; então, penso em mim; uma frágil cadeia, vagando, mendigando uma gota de óleo para iluminar um pouco a noite; assalta-me um estranho tremor e digo a mim mesmo estas palavras terríveis: morto vivo!
Sabes porque é assim? Os homens têm medo uns dos outros. Temem que o gênio de u devore o de outro, eis porque concedem espontaneamente apenas o alimento e a bebida, mas nada que possa saciar a alma..." Holderlin não fez de sua obra apenas a essência da poesia; ele viveu essa essência, levando às últimas conseqüências o seu universo poético e cortando durante 40 anos qualquer relacionamento com o mundo exterior. Holderlin não enlouqueceu, é a realidade em si mesma, que é absurda; enfrentando o seu próprio demônio, cumpriu apenas "a Vocação do Poeta". Quantos poetas de hoje e de sempre não travaram esse combate, fazendo do ato poético a sua própria vida? – Villon, Blake, Novalís, Poe, Nerval, Schumann, Van Gogh, Rimbaud, Strindberg, Artaud, etc. E o mundo real, o que pode oferecer aos poetas? Mundo do qual, disse muito bem Dylan Thomas: "Metade éconvenção, metade é mentira".
Carlos Lima
Poeta e professor da UERJ
Johann Christian Friedrich Hölderlin
Lamentos de Menon por Diotima
I
Dia após dia, eu vou buscando sempre um novo rumo,
Interroguei há muito da terra todos os caminhos,
Tenho visitado a frescura dos mentes, as sombras
E as fontes, por toda a parte erra meu espírito,
Mendigo de repouso, como um animal ferido para o bosque foge,
Onde outrora, ao meio dia, à sombra, seguro repousava,
Mas o seu verde abrigo já não lhe pode confortar o coração,
Gemendo e insone vaga, os espinhos o ferem.
Não o socorre o frio da noite, nem o calor do dia,
É inútil que nas águas do rio lave suas feridas.
E em vão, a oferenda que lhe faz de suas ervas
A terra, a febre de seu sangue nenhum zéfiro alivia,
Também a mim, ó amados! Ninguém
Poderá afastar de minha fronte o funesto sonho?
II
Sim, de nada serve, deuses da morte! Uma vez que
Manténs prisioneiro o homem vencido,
Depois, ó cruéis, de precipitá-lo na noite terrível,
Buscar, implorar ou insultar-vos,
Ou talvez paciente ficar neste doloroso exílio
E sorrindo ouvir esta canção prosaica.
Tem que ser assim, esquece tua salvação e adormece em silêncio!
E contudo sobe do meu peito a canção da esperança,
Ainda não podes, ó minha alma! Não podes ainda
Habituar-te e sonhas no meio do sono profundo!
Nenhuma festa, mas gostaria de coroar meus cabelos,
Então, eu não estou sozinho? Um sinal amigo deve chegara mim
No entanto longe, sorrio e surpreendo-me
De tão feliz estar em meio à dor.
III
Luz do amor! Õ luz dourada, brilhas também sobre os mortos?
Imagens de um tempo mais calmo, brilhas para mim na noite?
Amados jardins, montes do crepúsculo,
Sejam benvindos, e vós, silenciosos caminhos do bosque,
Testemunhas de celeste ventura, e vós, estrelas altíssimas.
Que outrora tantas vezes.me abençoastes!
Vós, também amadas, belas filhas dos dias de maio,
Serenas rosas, e vós, lírios, eu vos invoco ainda!
As primaveras passam, é certo, um ano vence outro,
Alternam-se e lutam, assim passa o tumulto do tempo
Sobre os mortais, mas não para os olhos felizes,
Aos amantes uma outra vida é concedida.
Pois, todos os dias e anos dos astros, eles estavam
Diotima! Junto de nós, íntimos e eternos;
IV
Mas nós, felizes de estarmos juntos, como cisnes apaixonados,
Quando no lago repousam ou balançam nas ondas,
Contemplando as nuvens de prata que se refletem na água,
E o azul etêreo que o seu curso agita
Assim caminhávamos sobre a Terra. E se o norte ameaçava,
O inimigo dos amantes, forjando lamentos e caíam
Dos ramos as folhas e voava no vento a chuva,
Sorríamos tranqüilos, sentíamos o próprio Deus
Em nossas confidencias, no cântico único da alma,
Sós, na nossa alegria infantil em plena paz.
Mas agora a casa é um deserto e tiraram-me
Os olhos e,sem eles, perdi-me.
Por isso vago; como as sombras terei que
Viver, e há muito, nada tem sentido para mim.
V
Celebrar eu queria, mas para que? E com outros cantar,
Pois sozinho, falta-me tudo o que ê divino.
Esta, eu sei, é a minha impotência e uma maldição entorpece meus
Nervos e abate-me, logo que começo
Inerte passo todo o dia, mudo como as crianças;
Apenas desce dos olhos uma lágrima fria,
E pertubam-me as flores do campo e o canto das aves,
Com sua alegria, pois são também arautos do céu,
Mas no coração frio, o sol que dá vida
Sinto-o fraco e estéril como os raios da noite,
Ah! Inútil e vazio como as paredes de uma prisão, o céu
Como um fardo opressivo paira sobre minha cabeça.
VI
O juventude, que outrora conheci tão diferente!
Não há oração que te traga de volta,
Nem caminho que te reaproxime?
Acontecerá a mim, o que outrora aos ímpios
Que com olhos ávidos tomaram lugar à mesa dos eleitos,
Mas logo saciados, os exaltados hóspedes
Calaram-se e com o canto dos ventos
Sob a terra florida adormeceram, até o dia
Em que um milagre do abismo os resgate
E retornem a caminhar sobre a terra verdejante.
-O sopro sagrado penetra a figura iluminada
Quando a festa se anima e o fluxo do amor se eleva
Emenbriagada com o céu, a torrente viva murmura
E ressoa no abismo, a noite devolve seu tesouro,
Sobe dos rios, o brilho do ouro oculto.
VII
Mas, ó tu, que outrora no meio do caminho
Quando diante de ti, abatido, consolaste-me com a beleza,
Tu que me ensinaste a ver a grandeza e com alegria cantar os deuses
Silenciosa, como eles, ensinaste-me o entusiasmo e a calma,
Ô filha dos deuses! Apareces e saúdas-me como outrora,
Falando-me, como outrora, das coisas sublimes?
Vês? Tenho que chorar e lamentar por ti, e quando
Penso em tempos mais nobres a alma se envergonha.
Pois, há tanto, tanto tempo pelos fatigados caminhos da terra,
Habituado a ti, eu te busquei errante,
Cordial espírito protetor! Mas em vão, os anos dospersaram-se
Desde que palpitava em nós o brilho da noite.
VIII
So a ti, a tua luz, na luz te guarda, Heroína!
E tua paciência te mantém amorosa, ó terna!
E nem sequer estás só, há muitos companheiros,
Onde floreces e repousas sob as rosas dos anos,
E o próprio Pai, no doce sopro das musas
Envia-te as meigas canções do sono.
Sim! Ela é ainda a mesma! Ainda surge, como outrora
Caminhando serena para mim, a Ateniense.
E mesmo, amigável espírito, que de tua fronte calma
Tombe sobre os mortais a benção do teu raio,
Revela-te a mim, fala-me, para que dizer aos outros possa
Porque, também, há outros que não crêm,
Que a alegria é mais imortal que a aflição e a cólera
E que ainda existe um dia de ouro no fim de cada dia.
IX
O celestiais! Assim vos dou graça e enfim
O sopro da prece alivia o peito do cantor.
E como no tempo em que ficava com ela no monte ensolarado,
Um deus fala do interior do templo, dando-me vida.
Já floresce o verde, quero viver também! Como uma lira sagrada
Clamam os montes prateados de Apolo!
Vem! Foi como um sonho! As asas que sangravam,
Já estão curadas e renascem todas as esperanças.
Há muitas, muitas grandezas ainda a descobrir, e quem
Tanto amou, tem que ir pelo caminho dos deuses.
E acompanhai-me, horas solenes! Taciturnas horas
Da juventude! Perdurai santos presságios,
Piedosas preces, entusiasmos, e vós
Bons gênios que acompanham os amantes,
Ficai conosco até que no lugar para onde
Retornam os bem-aventurados,
Lá, onde estão as águias, os astros e os mensageiros do Pai,
Lá, onde estão as'-tn"usas, onde vivem os heróis e os amantes,
Lá, ou aqui mesmo, sobre uma ilha orvalhada nos reencontraremos,
Onde os nossos, enfim, em comunhão florescem
Onde os cantos são verdadeiros e perduram as primaveras mais belas
E da nossa alma começa um novo ano.
Nota: O artigo sobre Hölderlin, assim como o poema Lamentos de Menon por Diotima foram publicados originalmente na revista "Alguma Poesia", editada pelo poeta Carlos Lima, durante os anos 1970 / 80
Quando eu era menino...
Quando eu era menino,
Um deus freqüente me salvava
Da gritaria e do látego dos homens,
Em segurança eu brincava
Com as flores do bosque;
As brisas do céu
Vinham brincar comigo.
E assim como alegras
O coração das plantas,
Quando estendem os braços
Meigos para ti,
Meu coração alegraste
Também, Pai Hélio! e como Endimião
Eu era o favorito Teu, sagrada Lua!
Oh vós todos, fiéis
Deuses amistosos,
Se soubésseis o quanto
Minha alma vos amou!
Não vos chamava eu então
Pelo nome, nem vós a mim
Pelo meu, como os homens
Quando se conhecem.
Mas eu vos conhecia
Como jamais aos homens conheci.
Eu compreendia o silêncio do Éter;
As palavras dos homens, não.
Educou-me a harmonia
Do bosque murmurante
E aprendi a amar
Debaixo das flores.
Foi nos braços dos deuses que eu cresci.
Johann F. Hölderling (1770-1843), Poeta alemão
21/08/2008
quem é quem
31/07/2008
28/07/2008
o logos nao é visto como uma lente que permite um certo olhar ao incomensuravel , ou um mero meio de dar sentido ao incomensuravel.
nao ha incomensuravel.
o desencantamento do mundo refere-se à cisão da psique consciente do inconsciente, e da consequente utilização exclusiva de projeçoes tipicas do consciente (mecanicismo, razao instrumental) no mundo. o mundo é uma superficie, o mundo é obvio, o mundo é lógico; o mundo é a=a e a ou não a. as projeçoes de sentido de complexos psíquicos que não sejam adequadamente compatíveis com o logos sao tidas como fantasia e delirio, tolices e inutilidades (razão como divindade tirânica no panteão psiquico). o homem passa a ser exclusivamente sua "consciência", sua casca, e o mundo tambem uma casca, conhecida e segura – tudo sob controle [o mundo é completamente mensurável, calculável e previsivel - o mundo torna-se metron, apenas o que pode ser medido com a medida humana! “o homem é a medida de todas as coisas”, especialmente quando possui conhecimento objetivo das coisas].
Desde então o mundo é a crosta terrestre: ignora-se o oceano de lava, e os vulcoes sao patologias.
porem parece que é o logos que possibilita um certo tipo de consciencia, e essa consciencia que possibilita um certo tipo de escolha, que por sua vez é um certo tipo de liberdade. abandonar a racionalidade nao apenas é irracional, é indesejável.
21/07/2008
17/07/2008
a grama é verde
a água é molhada"
http://images.google.com.br/images?hl=pt-BR&q=grass%20sky%20water&um=1&ie=UTF-8&sa=N&tab=wi
17/06/2008
sobre hybris, Faetonte, Icaro, contenta-te em ser homem, Babel, Golem, etc. - resignação e caminho do meio X "preguiça e covardia"
diria um que é tendência à inércia, ao conservadorismo, após o ímpeto da juventude. outro que prudência é sabedoria, em especial em tais casos. o fool é seeker, mas na ânsia do buscador, move-se demais, rebate-se aleatoriamente, e perde o que já havia ganho.
muita calma nessa hora. muita alma nessa aurora. "verbum sapienti: quo plus habent, eo plus cupiunt".
http://www.youtube.com/watch?v=13GA8JLW9qI
ponderava Marco Aurélio:
"Lembra-te sempre de todos os médicos, já mortos, que franziam as sobrancelhas perante os males dos seus doentes; de todos os astrólogos que tão solenemente prediziam o fim dos seus clientes; dos filósofos que discorriam incessantemente sobre a morte e a imortalidade; dos grandes chefes que chacinavam aos milhares; dos déspotas que brandiam poderes sobre a vida e a morte com uma terrível arrogância, como se eles próprios fossem deuses que nunca pudessem morrer; de cidades inteiras que morreram completamente, Hélice, Pompeia, Herculano e inúmeras outras. Depois, recorda um a um todos os teus conhecidos; como um enterrou o outro, para depois ser deposto e enterrado por um terceiro, e tudo num tão curto espaço de tempo. Repara, em resumo, como toda a vida mortal é transitória e trivial; ontem, uma gota de sémen, amanhã uma mão cheia de sal e cinzas. Passa, pois, estes momentos fugazes na terra como a Natureza te manda que passes e depois vai descansar de bom grado, como uma azeitona que cai na estação certa, com uma bênção para a terra que a criou e uma ação de graças para a árvore que lhe deu a vida."
19/05/2008
filosofia, arrogância e confusão, ou "with birds I share"
Psitacismo. Prosopopéias e onomatopéias. Centopéias de mil logos, louros acadêmicos prrr dá o pé louro prrr. Pé inchado, como Édipo. Rei Midas, um mundo em que o toque da cobiça deixa tudo frio; não são mais vistas árvores, mas o conceito de árvore, já disseram. Entre o Phd e o monge, não tive dúvidas, sem sombra de nuvens.
MOYERS: Não há dúvida de que nós, modernos, estamos despindo o mundo de suas
revelações naturais, da própria natureza. Penso naquela lenda pigméia do menino que
encontra na floresta um pássaro de belo canto e leva-o para casa.
CAMPBELL: Ele pede ao pai que traga alimento para o pássaro, mas este lhe diz que não
pretende alimentar um simples pássaro, e mata-o. A lenda diz que o homem matou o
pássaro, com o pássaro matou a música e com a música matou-se a si mesmo. Caiu morto,
completamente morto e morto permaneceu para sempre.
MOYERS: Isso não é uma história sobre o que acontece quando seres humanos destroem
seu ambiente? Destroem seu mundo? Destroem a natureza e as revelações da natureza?
CAMPBELL: Destroem sua própria natureza, também. Matam a música.
MOYERS: A mitologia não é a história dessa música?
CAMPBELL: A mitologia é a música. É a música da imaginação, inspirada nas energias do
corpo. Uma vez um mestre zen parou diante de seus discípulos, prestes a proferir um
sermão. No instante em que ele ia abrir a boca, um pássaro cantou. E ele disse: “O sermão
já foi proferido”.
31/03/2008
17/03/2008
13/03/2008
"se deus existe, então tudo é permitido"
04/03/2008
O que evoca o amor? Tal como têm sido dito em muitos lugares, em muitos anos, e sentido por cada um de nós, é a beleza. Uma percepção estética traz para a frente o nosso cuidado ético. Aesthesis madrugadora, respire a beleza do cosmos -- oh o rastejar meticuloso de um inseto, o suspiro da terra gelada quando o inverno revela seu domínio, observe a complexidade composta de uma simples pedra, o remoinho na areia quando a maré retrocede, ou escute o cantar do pássaro madrugador. A beleza nos deixa perplexos e atrai o foco do coração na direção do objeto, para fora de nós mesmos, para fora de nossa insanidade centrada no homem, na direção de querer manter o cosmos lá onde ele está por mais uma primavera e uma outra manhã. Esta é a emoção ecológica, e ela é estética e política ao mesmo tempo.
[james hillman]
26/02/2008
assim falei pro zaratustra - - zaratustra revisited parte VIII
Também houve precipitação ao anunciar que deus estava morto – talvez houvesse demasiada fome pela herança. Os deuses vivem morrendo e renascendo, seja após três dias ou após três eons, e talvez nisso consista sua imortalidade. Deus não morreu, apenas perdeu os sentidos! E bem sabemos que criar valores é criar sentidos. Adormeceu, o tal deus, e em seus sonhos o culto que aqueles que se denominavam seus fiéis lhe prestavam se apresenta como horrendo pesadelo.Em todo caso, seja sono profundo, seja morte cerebral, deixai que os mortos que enterrem seus mortos. Novos deuses já dançavam e cantavam, e também faziam a terra tremer. Cuidemos apenas para não passarmos a idolatrar gólems e outros monstros, e também nenhum asno. Uma nova geração de profetas, precisam os homens, e de uma nova geração de homens.
A compaixão pelos homens era tua última salvação, e não tentação, ó sábio dos adolescentes rebeldes!! Desprezando-a, a criança que te trouxeste o espelho foi embora, e te tornastes a imagem abominável que vistes. Quando estavas alegre, tuas bênçãos se derramavam espontaneamente, como um sol dourando remos; mas, talvez por rejeitares tão hebraicamente as mulheres, também tu, guerreiro e senhor de exércitos, também tu sucumbistes efeminadamente como a Eva, e rendeu-se aos encantos de serpentes. Foi tua serpente que te disse: “veja, há mais ventura em roubar do que em dar” – isso é mesquinhez e coisa de lojista! E tua criança, destemida, brincando de escandalizar e surpreender, e cuja sabedoria dizia muitas coisas apenas para escandalizar e surpreender, é a própria presa fácil para uma tal astúcia rastejante – e rapidamente a amargura tira todo doce da criança. Sim, tua serpente velhaca, que um dia te disse: “para ir mais longe, deves procurar outros caminhos; se outros sábios iniciaram subjugando, domando e matando serpentes e monstros marinhos, comece com um “kiss the snake on the tongue”!! Beijar a serpente na língua, e tornar-se demente e alcoólatra! E acreditar que com isso se cultuava um deus da música! De fato acontecem aí estardalhaços, mas nada mais avesso aos ares de montanhas e músicas de esferas. Na verdade a coisa mais próxima a isso que se viu em altas montanhas foram porcos jogando-se abismo abaixo; e como sabes, não foram poucos os que, tentando exorcizar demônios, jogaram-se com os porcos. O tal anão, o solene espírito do peso – que por sinal era teu parceiro, juntamente com a lua e aranhas, quando tinha tuas visões mais bizarras e absurdas – esse anão, que engano! Era um gigante. Havia todo um entre céus e terra em sua estatura, e agora sabemos que mesmo na esfera supra-lunar as estrelas bailarinas não estão livres desse espírito de peso. Zaratustra, como bom solitário que era, sempre falou consigo mesmo apenas, mas infelizmente não ouviu com ouvidos para ouvir seus conselhos ao jovem da árvore da montanha. Na verdade, foi apenas por querer ser mundano e consequentemente demasiado realista que ele não ousou declarar que tudo era um sonho, quando ouviu o sábio pregando as virtudes do sono, embora volta e meia exortava pelo despertar.
“Mas quem és tu”, talvez me dirão, “que imita a Zaratustra como um coxo a um dançarino, e que traz pregações que poderiam agradar até a velhas beatas?” Até os coxos podem dançar, e muitos só acreditam mesmo em coxos que saibam dançar; e ainda que sua dança não seja belo espetáculo, há coração em seus pés. Também das velhas beatas pode-se aprender muito, menos talvez sobre mulheres e chicotes; de qualquer modo, um bom desprezador despreza seu próprio desprezo, e com isso re-inventa a devoção. Porém, certamente Zaratustra era incomparavelmente melhor poeta e possuía grande sabedoria; não á toa foi também nosso mestre. Mas à tais mestres honra-se mais martelando-lhes um punhal no peito seco e duro de seus espantalhos do que lhes prestando cultos, e já a tempos é anunciado: “Zaratustra está morto! Zaratustra foi também apenas uma ponte, demasiado ponte, e já ficou para trás. É chegado o tempo de outras ilhas bem-aventuradas”.
25/02/2008
04/01/2008
apontamentos da palestrinha
“Naturalização”: perda ou abandono do “fantástico”; as coisas tornam-se “humanamente assimiláveis”, explicáveis, inteligíveis, “abertas, claras, aletheiadas” não mediante a figura de uma potência dotada de volição e consciência (“antropomorfismo”, deuses como princípios explicativos) e poderes sobre-humanos (poder de subjugar os homens, domina-los ou destruí-los – cultos de adoração pelo temor/aplacar a ira), mas a partir da imagem ou idéia de MECANISMO -> natureza em geral e seus fenômenos em particular são a) uma força cega (não consciente); b) regida por ordem e necessidade (não há acaso ou arbitrariedades, mas sim leis); c) essa ordem, essas leis podem ser conhecidas ou descobertas pelo homem, através unicamente de seu próprio empenho (não há “revelação” ou “dádiva” em relação ao conhecimento, mas sim exploração e conquista) e d) a natureza e seus fenômenos podem ser “compreendidos”, manipulados e dominados (causa e efeito >> ordem como repetição >> indução >> leis naturais >> utilização de leis para fins específicos [ou conhecimento das leis + “inventividade”] >> técnica [inventividade como motivação e capacidade de “inventar” e “construir” objetos cujo uso atenda a alguma finalidade humana]. Assim, inverte-se a relação de uma natureza divinizada que domina o homem para um homem divinizado (ele é o portador do “fogo” ou “luz” da razão que clareia e abre caminho diante das trevas do oculto) que domina a natureza. Sobre esse “fogo” da razão instrumental que diviniza o homem: diferença entre a fogueira dentro da caverna e o sol lá fora, lá do mito do Platão.
RAZÃO INSTRUMENTAL [razão instrumental e neurose, realismo fantástico/mágico e psicose, techne e poiesis] ///// o sagrado como práxis metafórica do ergo sum, fundamento de si ou auto-fundar-se (barão de munschaussen)// fundamento da conuctio entre essência e existência na verdade imaginal// conhece-te a ti mesmo como guerra e dança, arco e lira; atitude sacra como dês-reificação, dês-robotização(re-encantar o mundo, animismoXmecanicismo)
SACRALIZAR O MUNDO: A NATUREZA COMO HIEROFANIA, A NATUREZA COMO UM TEMPLO
Sobre razão/logos/teoria: o ponto principal não é tanto a capacidade de formular conceitos e estabelecer entre eles relações de predicação (em especial subsunção - conceitos mais gerais “abarcando” conceitos mais específicos) articuladas enquanto linguagem (pois isso também ocorre nas narrativas míticas e na poesia), mas sim na noção de INFERÊNCIA. É isso o que falta em visões “irracionais”: as ‘conseqüências’ ou ‘resultados’ ou ‘conclusões’ não são inteligíveis em algum sentido de “inferência válida” usual; o advir de imagens e pensamentos parece caótico e “sem sentido” por não estar submetido à “lógica”.
Heidegger sobre Nietzsche (que significa pensar): animal racional como animal metafísico; sofrimento como vingança; vingança como principio metafísico; pensar e representar como vingança >>>
modernidade: bacon e etc: obrigar a natureza a falar, tortura-la se for necessário; a vivência do estar só no mundo (sem “re-ligare”) como desolação, mundo como mundo que atormenta, natureza como constante ameaça. Ciência e técnica como vingança do homem contra a natureza; o homem usa a razão (o fogo de Prometeu) com o fim de tornar-se Titã e desafiar os deuses. O homem, que seria nada mais que parte da natureza, filho dela também, dela se separa em “civilização”, em ambientes “artificiais” urbanos [espaço-tempo artificiais da cultura e urbanidade], e declara guerra contra a natureza: quer domina-la, ser senhor da terra, e não mais estar submetido à “potencia desconhecida” por vezes terrível (pestes, desastres naturais, etc.. – fome, doença e morte – em resumo, sofrimento) que ela representa. É depois disso, dessa afronta, desse confronto, desse desafiar a natureza e em determinado sentido subjuga-la, domina-la (ou considera-la dominada**1), que o homem encontra nela mero “utensílio”, mero conjunto de recursos para seus fins, um “escravo” ou “servo” que nada vale por si próprio [não eh fonte autônoma de reivindicações :p], mas tão somente enquanto meio, algo que se define não apenas como possível de ser explorado e usado, mas que –deve- ser usado e explorado como que por sua própria natureza (natureza no sentido de essência). **1 a afronta se dá mesmo antes do império da técnica, mas de uma forma bem mais moderada, mesmo porque é um domínio da natureza bem mais restrito e em grande parte vinculado a esperança/confiança na providencia divina (como p. ex., no antigo testamento os hebreus já concebem a natureza como mero utensílio – o homem não apenas eh o centro da natureza no sentido de ser o que possui maior valor e maior importância, mas de que ele possui uma importância absoluta, e toda a natureza relativa: ele não apenas eh superior, mas senhor, e senhor absoluto; sua vontade eh a lei. Porém, sem dispor dos recursos para confrontar e dominar de fato a natureza, o homem eh vontade de vingança que ainda não conquistou seu trono; por isso a vontade do conhecer, o querer a verdade, torna-se vontade de poder.