31/01/2008

“Dois excessos: excluir a razão, só admitir a razão” (Blaise Pascal).

o sono da razão desperta monstros, mas a insônia maquina pesadelos

04/01/2008

apontamentos da palestrinha

CALENDÁRIO: presente de Prometeu/Hermes aos homens – o “passar” ou “advir” dos dias (sol nasce e se põe, noite, lua e estrelas, e novamente sol) não mais como uma “potência oculta”
“Naturalização”: perda ou abandono do “fantástico”; as coisas tornam-se “humanamente assimiláveis”, explicáveis, inteligíveis, “abertas, claras, aletheiadas” não mediante a figura de uma potência dotada de volição e consciência (“antropomorfismo”, deuses como princípios explicativos) e poderes sobre-humanos (poder de subjugar os homens, domina-los ou destruí-los – cultos de adoração pelo temor/aplacar a ira), mas a partir da imagem ou idéia de MECANISMO -> natureza em geral e seus fenômenos em particular são a) uma força cega (não consciente); b) regida por ordem e necessidade (não há acaso ou arbitrariedades, mas sim leis); c) essa ordem, essas leis podem ser conhecidas ou descobertas pelo homem, através unicamente de seu próprio empenho (não há “revelação” ou “dádiva” em relação ao conhecimento, mas sim exploração e conquista) e d) a natureza e seus fenômenos podem ser “compreendidos”, manipulados e dominados (causa e efeito >> ordem como repetição >> indução >> leis naturais >> utilização de leis para fins específicos [ou conhecimento das leis + “inventividade”] >> técnica [inventividade como motivação e capacidade de “inventar” e “construir” objetos cujo uso atenda a alguma finalidade humana]. Assim, inverte-se a relação de uma natureza divinizada que domina o homem para um homem divinizado (ele é o portador do “fogo” ou “luz” da razão que clareia e abre caminho diante das trevas do oculto) que domina a natureza. Sobre esse “fogo” da razão instrumental que diviniza o homem: diferença entre a fogueira dentro da caverna e o sol lá fora, lá do mito do Platão.
RAZÃO INSTRUMENTAL [razão instrumental e neurose, realismo fantástico/mágico e psicose, techne e poiesis] ///// o sagrado como práxis metafórica do ergo sum, fundamento de si ou auto-fundar-se (barão de munschaussen)// fundamento da conuctio entre essência e existência na verdade imaginal// conhece-te a ti mesmo como guerra e dança, arco e lira; atitude sacra como dês-reificação, dês-robotização(re-encantar o mundo, animismoXmecanicismo)
SACRALIZAR O MUNDO: A NATUREZA COMO HIEROFANIA, A NATUREZA COMO UM TEMPLO


Sobre razão/logos/teoria: o ponto principal não é tanto a capacidade de formular conceitos e estabelecer entre eles relações de predicação (em especial subsunção - conceitos mais gerais “abarcando” conceitos mais específicos) articuladas enquanto linguagem (pois isso também ocorre nas narrativas míticas e na poesia), mas sim na noção de INFERÊNCIA. É isso o que falta em visões “irracionais”: as ‘conseqüências’ ou ‘resultados’ ou ‘conclusões’ não são inteligíveis em algum sentido de “inferência válida” usual; o advir de imagens e pensamentos parece caótico e “sem sentido” por não estar submetido à “lógica”.

Heidegger sobre Nietzsche (que significa pensar): animal racional como animal metafísico; sofrimento como vingança; vingança como principio metafísico; pensar e representar como vingança >>>
modernidade: bacon e etc: obrigar a natureza a falar, tortura-la se for necessário; a vivência do estar só no mundo (sem “re-ligare”) como desolação, mundo como mundo que atormenta, natureza como constante ameaça. Ciência e técnica como vingança do homem contra a natureza; o homem usa a razão (o fogo de Prometeu) com o fim de tornar-se Titã e desafiar os deuses. O homem, que seria nada mais que parte da natureza, filho dela também, dela se separa em “civilização”, em ambientes “artificiais” urbanos [espaço-tempo artificiais da cultura e urbanidade], e declara guerra contra a natureza: quer domina-la, ser senhor da terra, e não mais estar submetido à “potencia desconhecida” por vezes terrível (pestes, desastres naturais, etc.. – fome, doença e morte – em resumo, sofrimento) que ela representa. É depois disso, dessa afronta, desse confronto, desse desafiar a natureza e em determinado sentido subjuga-la, domina-la (ou considera-la dominada**1), que o homem encontra nela mero “utensílio”, mero conjunto de recursos para seus fins, um “escravo” ou “servo” que nada vale por si próprio [não eh fonte autônoma de reivindicações :p], mas tão somente enquanto meio, algo que se define não apenas como possível de ser explorado e usado, mas que –deve- ser usado e explorado como que por sua própria natureza (natureza no sentido de essência). **1 a afronta se dá mesmo antes do império da técnica, mas de uma forma bem mais moderada, mesmo porque é um domínio da natureza bem mais restrito e em grande parte vinculado a esperança/confiança na providencia divina (como p. ex., no antigo testamento os hebreus já concebem a natureza como mero utensílio – o homem não apenas eh o centro da natureza no sentido de ser o que possui maior valor e maior importância, mas de que ele possui uma importância absoluta, e toda a natureza relativa: ele não apenas eh superior, mas senhor, e senhor absoluto; sua vontade eh a lei. Porém, sem dispor dos recursos para confrontar e dominar de fato a natureza, o homem eh vontade de vingança que ainda não conquistou seu trono; por isso a vontade do conhecer, o querer a verdade, torna-se vontade de poder.