19/05/2008

filosofia, arrogância e confusão, ou "with birds I share"

Eventualmente a tradição mais oculta do que revela, como uma caverna com correntes e sombras na parede. Herdam-se sombras, desenvolvem-se sombras, sofisticam-se sombras, e mesmo superam-se, abandonam-se, substituem-se sombras. Sem sombras de dúvida, sem o benefício da dúvida até que provem o contrário, pois quem prova aprova, prova real. É tudo por um real, aparentemente; e paradoxalmente, a = a.
Psitacismo. Prosopopéias e onomatopéias. Centopéias de mil logos, louros acadêmicos prrr dá o pé louro prrr. Pé inchado, como Édipo. Rei Midas, um mundo em que o toque da cobiça deixa tudo frio; não são mais vistas árvores, mas o conceito de árvore, já disseram. Entre o Phd e o monge, não tive dúvidas, sem sombra de nuvens.


MOYERS: Não há dúvida de que nós, modernos, estamos despindo o mundo de suas
revelações naturais, da própria natureza. Penso naquela lenda pigméia do menino que
encontra na floresta um pássaro de belo canto e leva-o para casa.

CAMPBELL: Ele pede ao pai que traga alimento para o pássaro, mas este lhe diz que não
pretende alimentar um simples pássaro, e mata-o. A lenda diz que o homem matou o
pássaro, com o pássaro matou a música e com a música matou-se a si mesmo. Caiu morto,
completamente morto e morto permaneceu para sempre.

MOYERS: Isso não é uma história sobre o que acontece quando seres humanos destroem
seu ambiente? Destroem seu mundo? Destroem a natureza e as revelações da natureza?

CAMPBELL: Destroem sua própria natureza, também. Matam a música.

MOYERS: A mitologia não é a história dessa música?

CAMPBELL: A mitologia é a música. É a música da imaginação, inspirada nas energias do
corpo. Uma vez um mestre zen parou diante de seus discípulos, prestes a proferir um
sermão. No instante em que ele ia abrir a boca, um pássaro cantou. E ele disse: “O sermão
já foi proferido”.